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Old Posted Jul 3, 2013, 10:39 AM
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SETOR NOROESTE À espera do futuro


Como vivem os pioneiros do Noroeste, que habitam prédios de luxo mas enfrentam problemas típicos de periferia



Quando se mudou para o Setor Noroeste, a 11 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, em 30 de maio, a pensionista Maria Alice Freitas não imaginava que seria a primeira -- e única -- moradora do seu edifício. Depois de dois dias sem ver vivalma, indagou sobre os vizinhos na portaria. Foi aí que lhe informaram: o prédio, com 84 apartamentos, era todo seu. “Jesus, misericórdia!”, pensou. “Depois dos 60, você fica carente. Achei que existiriam outros idosos para eu encontrar na praça. Não quero um prédio só para mim”, diz Maria Alice, de 65 anos.

Não há nem outros idosos, nem praça. Os pioneiros do Noroeste vivem em um canteiro de obras. São seis empreendimentos prontos, com habite-se, em meio a 108 outros em construção. Somados, não passam de 150 moradores num bairro de 252 hectares. O edifício Viverde, o primeiro a ficar pronto e o mais populoso, tem apenas trinta apartamentos ocupados, de um total de 120.

Esses primeiros desbravadores do local enfrentam situações inusitadas. O servidor público Mario Azeredo Coutinho teve seus quinze minutos de fama quando, em dezembro de 2012, recebeu as chaves da primeiríssima unidade entregue. “Eu me sentia como JK. É a Brasília antiga nos tempos modernos”, compara. Ele se mudou em 4 de janeiro. Até hoje alguns cadastros registram o endereço da mãe. “No Detran, por exemplo, o Noroeste não consta”, explica.

Como o CEP do bairro é novo, ele não figura nos sistemas de entrega ou está fora do perímetro do contrato. Os Correios ainda não chegam. Televisão por assinatura, há apenas as que funcionam por antena parabólica. Não existem serviços a cabo como internet e telefone fixo. “Eu sou portuguesa, tenho muitos parentes na Europa, o que mais me faz falta é o telefone fixo. Falar com o exterior pelo celular pré-pago não dá”, lamenta Maria Alice. Padaria, farmácia e supermercado ficam a pelo menos 4 quilômetros dali. Tele-entrega? Nem pensar.

As domésticas e os porteiros são obrigados a fazer uma caminhada de meia hora do fim da W3 Norte até o trabalho. À noite, andam em grupo. O transporte público não prevê passagem pelo bairro. Sem iluminação e com mato alto nas proximidades dos prédios, ninguém se arrisca a andar sozinho em um breu perdido no Cerrado.



Sábado e domingo são os dias de feira. Feira imobiliária. Um quebra-molas obriga quem estiver passando a reduzir a velocidade e a ouvir as ofertas dos corretores, que anunciam apartamentos de três ou quatro quartos como quem vende laranjas e bananas. Nas madrugadas, há relatos de que a mesma via é utilizada para pegas de carros esportivos. O contexto ajuda: 4 quilômetros de estrada asfaltada, deserta e sem fiscalização. Porteiros noturnos e moradores insones já ouviram o roncar dos motores em alta velocidade. “É barulho de Lamborghini”, relata um morador que preferiu não se identificar.

Para a médica Christina Bittencourt, a moradora número 1 do edifício Via Parque, o trânsito tornou-se o problema mais grave. Nos horários de chegada e partida dos trabalhadores, o tráfego no Noroeste assemelha-se ao da Índia. As ruas não têm direção nem limite de velocidade. São comboios de ônibus privados das construtoras e carros saindo ao mesmo tempo. “Bati meu carro pela primeira vez na vida aqui”, lamenta a médica.

Em 2009, quando começaram as pré-vendas do setor Noroeste, ele foi anunciado como um empreendimento do futuro. Ao lado do Parque Nacional de Brasília, seria o primeiro bairro ecológico da América Latina, construído dentro dos padrões de sustentabilidade. Os edifícios têm placas solares, reaproveitamento de água da chuva, sistema de gás natural e são adaptados para fazer coleta seletiva de lixo a vácuo. As projeções mostravam os jardins da Babilônia: conforto, tranquilidade, edifícios de alto padrão com espaço de lazer completo e até seis vagas na garagem. Com expectativas em alta, antes mesmo de sair do papel, já se falava na área mais cara de Brasília.

Quatro anos depois, o futuro ainda não chegou. Os moradores, que pagaram um dos metros quadrados mais elevados do país -- 9 000 reais em média ---, vivem num entorno de periferia e recorrem, constantemente, à prática pouco glamourosa de reclamar do descaso do poder público. O professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, acredita que os primeiros a residir no Noroeste são verdadeiros heróis. “Como pode o governo liberar o habite-se sem fornecer a infraestrutura mínima necessária? Os moradores estão isolados e em situação de risco.”

Para Flósculo, em qualquer lugar do mundo o metro quadrado na área urbanizada vale mais do que o que está inserido em uma em construção. “O bairro não é verde.” De acordo com o professor, sustentáveis eram os índios que foram retirados do local. Para acabar com a controvérsia, a Terracap deu entrada no processo de certificação de sustentabilidade do U.S. Green Building Council. Albatênio Granja, gerente de projetos do Noroeste, da Terracap, explica que ecológico, de fato, não é o termo adequado. Mas sustentável sim. “O futuro não é tão longínquo assim. As obras pendentes têm entrega prevista para 2013”, diz Granja.

Maria Alice, Mario Azeredo e Christina Bittencourt estão esperando o futuro. Enquanto isso, desbravam os caminhos para os 40 000 vizinhos que devem se mudar para o bairro até 2017.














http://vejabrasil.abril.com.br/brasi...-do-futuro-119
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