Saiba por que o Mercado Imobiliário está em baixa
Nessas últimas semanas, tivemos muitas evidências de que o mercado imobiliário continua fraco no país, depois das grandes altas dos últimos anos. Só na imprensa foram divulgadas, nas últimas semanas, as seguintes notícias:
- Queda de 21% na venda de imóveis em São Paulo - a menor quantidade de imóveis vendidos desde 2005!
- Queda de 39,91% na venda de imóveis em Belo Horizonte
- Queda de 25,34% na venda de imóveis em Porto Alegre
Desconto de até 36%… início de desespero no mercado imobiliário?
E, por fim, matéria do Valor Econômico indica que “é hora de descontos na compra de imóveis“.
Segundo a matéria, a incorporadora anunciou a venda das primeiras 120 unidades vendidas no dia “Even day” (o último domingo) com desconto de até 36%! De acordo com o texto, a iniciativa decorreria do fato de o primeiro trimestre do ano ser o mais fraco, e de muitas das unidades cuja construção se iniciou em 2007 e 2008 estarem sendo terminadas agora.
No mínimo, a situação é estranha, porque as construtoras sempre anunciaram que as unidades construídas no período de 2006 a 2010 eram integralmente vendidas em poucas semanas após o lançamento, em razão da força da demanda pelas unidades. Se a situação era essa, como sobraram mais de mil unidades novas de uma única construtora?
Queda na demanda e preços estáveis? O mercado imobiliário brasileiro é alheio às leis econômicas?
Além disso… se a demanda continua forte – embora mais fraca do que nos últimos anos, como o próprio setor já começou a admitir – o que justificaria um desconto tão alto quanto 36%? Afinal, se a demanda é forte, os preços deveriam subir. O setor acha que os preços entraram em equilíbrio. Se esse é o caso, por que alguém em sã consciência ofereceria um desconto tão alto? Só para embolsar o dinheiro, fazer caixa para investir em novos empreendimentos?
Mas isso não poderia levar a uma desconfiança dos compradores das novas unidades?
Afinal, essa promoção é uma apunhalada nas costas dos investidores que compraram as unidades entre 2007 e 2012. Muitos aguardavam pela valorização do empreendimento e agora vêem, no momento em que eles mesmos talvez pretendam vender suas unidades e embolsar os lucros pretendidos, que a construtora é sua grande rival ao oferecer um desconto de 36%…
O desconto parece baixo quando comparado à grande valorização do mercado imobiliário nos últimos anos, mas não é.
Na verdade, os 36% de desconto podem corroer a maior parte da rentabilidade dos compradores que adquiriram suas unidades com o intuito de vender ao final da obra. Imagine alguém que tenha comprado o imóvel por R$ 100.000,00 no início de 2008, e teve uma valorização de 30% ao ano até 2011. Ao final de 2011, seu apartamento estaria “avaliado” em R$ 219.700. Muito bom, não é? 119,7% em 4 anos é um rendimento fantástico.
Mas… imagine que, em março de 2012, o preço do apartamento despencasse 36%. Os R$ 219.700,00 se transformariam em… R$ 140.608,00. Os 119,7% cairiam para 40,60% – uma rentabilidade média anual de 8,89%. Mais ou menos o que a poupança renderia no período. Mesmo que se considere que é uma promoção pontual, ela poderia deslocar os preços do mercado imobiliário da região. Afinal, por que a construtora faria uma promoção dessas se acreditasse que os imóveis valem mais e que a demanda surgirá naturalmente nos próximos meses – afinal, o discurso oficial é o de que a demanda para as novas unidades ainda existe?
Por que, em sã consciência, um comerciante venderia por R$ 640.000 um apartamento que vale R$ 1.000.000? Por que não vimos promoções como essas entre 2007 e 2010?
No ano passado, ofereciam tevês de LCD e outros prêmios para quem comprasse um apartamento (em uma unidade de luxo, chegou a ser anunciado que o comprador ganharia uma Mercedes Benz).
Agora, oferecem 36% de desconto. A nosso ver, é sinal do esgotamento do que aconteceu nos últimos anos no mercado imobiliário brasileiro. Com a queda na demanda, acredito que promoções desse tipo começarão a se tornar cada vez mais uma realidade.
Afinal, serão muitos os lançamentos em 2012 e 2013 e as construtoras tentarão desovar as unidades ainda não vendidas com descontos como esse.
Só que isso vai afetar o “investimento” de quem comprou lá em 2008, 2009 e 2010 pensando em vender seus imóveis justamente no lançamento – quando as construtoras se tornarão suas grandes concorrentes.
Ou você acha que a “promoção” vai ser pontual?
Que alguém compraria o imóvel por R$ 140.000 em um dia e o venderia magicamente no dia seguinte por R$ 219.000 só porque “acabou a promoção de um dia”?
Acreditamos que está chegando a hora de vermos muitos esqueletos saindo do armário do mercado imobiliário brasileiro…
http://www.boriola.com.br/content/sa...m-baixa?page=1