Ficou para o segundo tempo...
O Globo, Karine TRavares, 21/jul
Dentro de campo, os brasileiros bateram um bolão e garantiram a taça. Mas, fora dele... a Copa das Confederações parece ter sido uma tremenda bola fora. Pelo menos para aqueles que esperavam lucrar alugando as próprias casas para turistas, pediram alto demais e acabaram ficando com a casa vazia. Agora, esses prováveis anfitriões estão revendo suas expectativas para a Copa do Mundo.
A representante comercial Luíza Castro Peixoto, que anunciou uma casa de 600 metros quadrados em Fortaleza por R$ 90 mil mas não conseguiu alugar, já traçou nova estratégia para 2014.
- Eu vou tirar o valor e colocar "a negociar". Como o anúncio vai ficar mais tempo no ar, acredito que dessa vez, vai dar certo - avalia Luíza, que não pretende fixar prazo para a estadia e já aceita negociar o aluguel por períodos menores, de alguns dias e não para todo o evento, como este ano.
Já quem pediu valores mais justos alugou este ano. E, neste caso, até conseguiu fechar negócio para 2014. Foi o caso de Bruno Almeida, que trabalha no mercado financeiro e acaba de fechar um pacote de 11 dias para dois casais, a R$ 500 a diária dos quatro, para o período da Copa do Mundo. Praticamente no mesmo valor cobrado agora.
- Talvez, até pudesse pedir mais, se esperasse mais um pouco. Mas tive uma boa experiência este ano e achei que valia fechar logo - conta Almeida, que na Copa das Confederações alugou o imóvel, de dois quartos em Ipanema, por três dias e R$ 1.400. - Era só um casal, então fiz um desconto.
Os valores cobrados por Bruno condizem com a expectativa do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio (Creci-RJ), para quem os preços durante a Copa devem crescer de 10% a 15% em relação aos praticados este ano. Em levantamento feito para o Morar Bem, a entidade prevê que as diárias durante a Copa variem de R$ 180, por um conjugado em Copacabana, a R$ 550, por um três-quartos em Ipanema ou no Leblon.
Na Copa das Confederações, a média das diárias cariocas ficou entre R$ 250 e R$ 350, cerca de 50% a mais que em junho do ano passado. Muito abaixo de alguns dos valores anunciados para o período do evento. Por um dois-quartos na Lapa, a psicóloga Magda Guedes pediu R$ 18 mil de aluguel por 15 dias. Uma diária de R$ 1.200, que, admite, era cara demais. Resultado, também não conseguiu alugar:
- Fiz o preço de acordo com outros anúncios que vi. Até porque, só me interessava alugar se fosse por um valor que fizesse diferença para mim.
Já o militar Luiz Carlos da Silva anunciou um apartamento de dois quartos no Maracanã por R$ 10 mil. Como não teve propostas, baixou para R$ 7 mil. E, ainda assim, não alugou.
- De repente, para a Copa, peço o mesmo valor pelos 30 dias. Mas, não sei se alguém vai querer alugar por tanto tempo. As distâncias entre as cidades-sede são grandes, as passagens aéreas caras e se a tabela dos jogos for igual à deste ano, fica inviável manter uma base em uma cidade - avalia Silva, que foi às duas últimas Copas do Mundo e viajou pelo Brasil durante a Copa das Confederações.
58% dos turistas em hotel e pousada
Enquanto anfitriões não sabem muito bem o que esperar, os sites de aluguel por temporada mantém o otimismo para a Copa, que deve funcionar, esperam, como um segundo carnaval, com preços de 50% a 100% acima do valor normalmente praticado na cidade.
- Vai ser uma nova alta temporada no Brasil, com valores parecidos aos do carnaval - sustenta Christian Gessner, Country Manager do site AirBnb.
Tal otimismo tem explicação. Para a Copa do Mundo são esperados 630 mil turistas estrangeiros. Este ano, foram só 20 mil, e 80,4% deles optaram por hospedagens tradicionais. Quando somados brasileiros e estrangeiros, apenas 58% dos turistas que viajaram por conta da Copa optaram por hotéis e pousadas, segundo pesquisa feita pela Fipe para o Ministério do Turismo.
Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), com 620 pessoas abordadas nas proximidades dos estádios, apurou que entre os que deveriam participar também da Copa do Mundo, 63% não pretendem gastar nada com hospedagem. Para a Copa das Confederações, esse número foi ainda maior. Chegou a 85%.
De fato, os hotéis não tiveram uma ocupação tão boa como esperavam. No Rio, a taxa chegou a ficar abaixo da média: 67,2% contra os 70% registrados em junho do ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ). Nas outras cidades, onde foram realizados jogos da competição, os números foram parecidos: 70% no caso de Fortaleza e Brasília; 72%, no de Salvador; 75%, Belo Horizonte; e 83% em Recife.
Apesar de não haver números oficiais, entretanto, os sites dizem que houve crescimento durante a Copa das Confederações. Tanto na procura como nas reservas efetuadas, que teriam chegado a ficar 30% acima de junho do ano passado, no caso do House in Rio.
- Para a Copa do Mundo, com certeza vai ser melhor. Nós estamos planejando uma expansão para outras cidades com jogos - conta Eduardo Serrado, diretor do site.
- Locações por temporada crescem mais quando não há vagas na rede hoteleira - lembra Nicholas Spitzman, presidente do Aluguel de Temporada. - Isso ocorre todo ano em Copacabana, no réveillon.
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