"Rei da classe G": "Se o governo não tem dinheiro, eu vou buscar esse dinheiro"
O milionário empresário mineiro Elias Tergilene ignora a crise que o país atravessa e anuncia que quer transformar o abandonado Shopping Popular em um centro atacadista modelo para o país
Foto: Sheyla Leal/ObritoNews/Fato Online
O empresário acredita ter a solução para o hoje abandonado Shopping Popular
O empresário Elias Tergilene, 43 anos, considerado o "rei do varejo popular" no Brasil, decidiu ignorar a crise e quer investir pesado em Brasília. Na última quarta-feira (18), ele desembarcou na cidade sem fazer muito estardalhaço, mas disposto a fechar negócio. Voltou para casa, em Minas Gerais, um pouco decepcionado, porém adiantou ao Fato Online os planos que têm para a capital do país, dos quais não pensa em desistir.
“Cadê o povo?"
Antes mesmo das 16h, horário marcado para começar o evento que comandaria no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o fundador da rede de shoppings populares Uai – vestindo blazer preto e sem gravata – misturava-se com facilidade entre ambulantes e feirantes nos corredores do espaçoso auditório principal. Parecia à vontade: falava alto e gesticulava bastante, prendendo a atenção de quem se aproximava para escutá-lo.
“Cadê o povo? Cadê o povo?”, perguntava ele, ansioso e antecipando o incômodo que revelaria minutos depois em cima do palco. “Era para este lugar estar lotado. E olha o tanto de cadeiras vazias”, repetia ele, apontando para os "buracos" na plateia.
O evento não foi mesmo um sucesso. A organização esperava reunir pelo menos 2 mil pessoas no chamado Fórum Caravana do Empreendedorismo. No fim das contas, não compareceram mais do que 400. Embora visivelmente chateado com a quantidade de pessoas, Tergilene roubou a cena. Usou o microfone mais do que os secretários de Estado presentes na cerimônia e arrancou os aplausos mais efusivos dos participantes.
"Classe G"
Ex-vendedor de esterco, ex-camelô e ex-serralheiro, o empresário nascido no Vale do Mucuri entendeu o potencial econômico do que classifica como “classe G, de gente” e fez fortuna. Com jeitão despachado e discurso simples, gaba-se da atual condição financeira, sem parecer arrogante.
“Deixa eu dizer para vocês: eu não tenho tempo para gastar todo o dinheiro que estou ganhando”, disse, sem qualquer pudor. “Dá um pouco para mim!”, gritou alguém, do meio do público.
Mas não foi só para fazer graça que Tergilene explorou uma intimidade que não existia. “Quero ajudar vocês. Se o governo não tem dinheiro, eu vou buscar esse dinheiro para vocês”, afirmou, com tom forte, hipnotizando o auditório esvaziado. “Era para isso aqui estar lotado, para gente decidir o que fazer”, insistiu, ainda demonstrando chateação com o lugar vazio.
Convidado pelo próprio GDF para palestrar, Tergilene criticou o governo pela “falta de diálogo e de mobilização” com as categorias envolvidas no evento. Entre uma alfinetada e outra – e querendo deixar claro que não tem "qualquer relação com política" –, exibiu vídeos sobre a própria trajetória, contou piadas e, por diversas vezes, defendeu os ambulantes.
“Ninguém aqui precisa ter vergonha de trabalhar na rua. Somos empreendedores. Somos nós quem contribuímos para o Brasil andar”, defendeu, condenando a repressão aos camelôs. “Não se pode colocar polícia para resolver esse problema”, sustentou, em meio às repercussões da polêmica proposta do GDF, divulgada pelo Fato Online com exclusividade naquele dia, de autorizar o trabalho de ambulantes em determinados horários e locais.
Expansão
A rede de shoppings populares Uai, fundada por Tergilene, nasceu no centro de Belo Horizonte e se espalhou pelo país: atualmente, há unidades no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Manaus e em Toritama (PE). O faturamento anual do grupo, que apostou no conceito de “feiras chiques”, soma algumas dezenas de milhões.
No mês passado, o mineiro ganhou a licitação para explorar a famosa Feira da Madrugada, em São Paulo: vai pagar R$ 53 milhões à Prefeitura da capital paulista para explorar o espaço por 35 anos. Cortejado por políticos de todos os partidos, o empresário do povão virou parte da salvação para governos de cofres minguados.
“Eu quero ajudar vocês. Vamos resolver o problema de vocês”, prometia com animação o mineiro, já querendo marcar o retorno a Brasília. E conseguiu: em janeiro de 2016, ele acompanhará representantes do governo em visitas às principais feiras do DF e, em fevereiro, o grupo se reunirá com ambulantes e feirantes para tentar encontrar soluções.
Shopping Popular
A primeira proposta do empresário surgiu ali mesmo: Tergilene se dispôs a “fazer o possível” para ajudar os feirantes a administrarem, por conta própria, o Shopping Popular, às moscas desde que a Rodoferroviária foi desativada. "Não podemos só reclamar do governo", conclamou.
“Vamos fazer do Shopping Popular um centro de atacado modelo para o Brasil. Quero trazer prefeitos e governadores aqui, para eles verem o sucesso que vai ser”, vislumbrava o empresário, provocando novo alvoroço.A ideia do showman do varejo é transformar o Shopping Popular em um centro atacadista, abastecido por produtos originários dos principais polos de confecções e calçados do país, por exemplo. Dali, os itens seriam distribuídos para as demais feiras do DF e mesmo para os ambulantes.
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Elias Tergilene, "rei do varejo popular"
Sem freio, Tergilene ainda afirmou ser possível dar uma cara nova às feiras do DF, melhorando a infraestrutura e as condições de trabalho.
Pirataria
No auge da empolgação, o empresário chegou a minimizar a prática da pirataria: "Se tem pirataria? Tem, sim. Mas e daí? Esse é um problema do governo. As pessoas têm que ir é lá na Polícia Federal e pedir para eles não deixaram esses produtos passarem nas fronteiras", argumentou, arrancando mais aplausos.
No fim do evento, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) apareceu para responder algumas perguntas e tirar fotos com feirantes e ambulantes. Ouviu atentamente do próprio Elias Tergilene – que tinha dificuldade para largar o microfone – as propostas de investimentos em Brasília. Sobre essas investidas, o chefe do Executivo resumiu ao Fato Online: “A gente recebe com muita alegria qualquer manifestação de interesse de parceria”.
A situação das feiras do DF será o tema do programa Brasília de Perto nesta segunda-feira (23).
Foto: Sheyla Leal/ObritoNews/Fato Online
Corredores desertos são, hoje, a realidade do Shopping Popular
http://fatoonline.com.br/conteudo/12...a&p=de&i=1&v=1