Crise imobiliária nos EUA durará anos, preveem economistas
Economistas, construtoras e analistas de crédito imobiliário estão prevendo que a fraqueza da economia americana vai deprimir os preços de imóveis durante anos, restringindo o consumo nos Estados Unidos, causando mais execuções judiciais de imóveis e reduzindo a perspectiva de uma recuperação sustentável.
Coincidentemente, o ministro Guido Mantega disse ontem em Nova York que enquanto os EUA não resolverem sua crise imobiliária há poucas esperanças de que o câmbio se estabilize e o Brasil não tenha mais de tomar medidas para evitar a valorização do real.
A expectativa é de que os preços de imóveis caiam 2,5% este ano e subam só 1% ao ano nos próximos 5 anos, segundo uma recente pesquisa com 100 economistas. Os preços já caíram 31,6% desde seu pico, em 2005, de acordo com o índice Case-Shiller, da Standard & Poor's, que inclui 20 cidades.
Se a previsão dos economistas for correta, isso significa que o setor imobiliário tem à frente uma década perdida em que, entre 2005 e 2015, os preços só recuperarão uma pequena fração do que foi perdido, deixando proprietários com pouco ou nenhum patrimônio em seu imóvel . A pesquisa foi feita pela MacroMarkets LLC, que cria títulos de investimento que permitem a investidores apostarem na direção de vários ativos, inclusive imóveis residenciais.
O estouro da bolha imobiliária nos EUA esfriou o consumo no país — o mais forte condutor do crescimento econômico americano —, com a erosão do patrimônio imobiliário contribuindo para o chamado efeito de reversão da riqueza, que leva as pessoas a gastarem com cautela porque se sentem mais pobres.
Um em cada cinco americanos que têm uma hipoteca deve mais que o valor do imóvel, e cerca de US$ 7 trilhões em patrimônio de proprietários de imóveis foram perdidos. O patrimônio imobiliário, que era 59,7% do valor das residências em 2005, agora não passa de 38,6%.
"Com toda a turbulência econômica, tanto doméstica quanto internacional, não há muita coisa que aponte para uma melhora do mercado imobiliário no futuro próximo", disse Ara Hovnanian, diretor-presidente da Hovnanian Enterprises Inc., uma das maiores construtoras americanas.
Embora os preços de imóveis não estejam caindo tanto quanto em 2008, uma preocupação é que mesmo quedas mais modestas se realimentem, levando mais proprietários para o vermelho e exacerbando a força negativa causada por mais execuções judiciais. Isso, por sua vez, leva bancos a apertarem a concessão de crédito, enxugando ainda mais o grupo de potenciais compradores de imóveis logo quando eles são mais necessários para comprarem imóveis executados que estão em poder dos bancos.
A queda do mercado imobiliário está pesando sobre a economia, em parte, porque casas confiscadas pelos bancos inibiram a construção civil, que costuma ser um motor de geração de empregos em fases como a atual. O Departamento de Comércio afirmou ontem que o início de novas construções caiu 1,4% em agosto para uma taxa anualizada e dessazonalizada de 417.000 unidades, um dos menores níveis desde 2009.
A situação tem implicações além das fronteiras americanas. "Os EUA têm de resolver a crise imobiliária", disse Mantega ao Wall Street Journal, argumentando que sem o setor de construção para gerar empregos e, assim, incentivar o consumo, a tendência será de contínua desvalorização do dólar ante o real — o que por sua vez acaba reduzindo as chances de queda de juros no Brasil.
Nos últimos 35 anos, o setor imobiliário contribuiu com 0,03 ponto porcentual do crescimento do produto interno bruto dos EUA, de acordo com pesquisa da regional de St. Louis do banco central americano, o Federal Reserve. Mas nos dois anos depois da maior parte das recessões, acrescentou 0,5 ponto ao PIB.
A queda do mercado não foi fácil para Greg Rubin, dono de uma firma de paisagismo na Califórnia. O faturamento caiu pela metade em 2007 e Rubin reduziu sua equipe de 21 para sete funcionários. Ele agora faz serviços por US$ 4.000, sendo que antes não fazia orçamento abaixo de US$ 10.000.
Como o valor dos imóveis não está mais subindo, as poucas pessoas que contratam Rubin estão pagando com sua poupança em vez de tomar emprestado contra seu imóvel. Isso diminui bastante o poder de compra da clientela. Além disso, disse Rubin, os preços de imóveis têm caído por tanto tempo que muita gente deixou de acreditar que reformas na casa vão aumentar seu valor.
"Há essa mentalidade de que os preços estão caindo independentemente das melhorias que se façam, então é uma causa perdida" para os proprietários, disse.
Quando os preços de imóveis sobem, geralmente os proprietários gastam mais dinheiro, mesmo durante períodos de fraqueza econômica, e isso gera empregos. Mas esse ciclo pode ter o efeito inverso, disse James Parrott, um conselheiro de alto escalão do governo na área imobiliária. "Conforme cai o valor da casa de uma família, ele pode passar de uma alavanca da poupança para um ralo da poupança".
Essas preocupações levaram o governo este ano a começar a consultar especialistas em busca de uma maneira de atacar o problema. A Casa Branca está estudando alternativas para encorajar os bancos a reduzir a dívida hipotecária de quem está seriamente no vermelho e outras alternativas. Até agora, porém, não há muitos resultados para mostrar.
Fonte:
WSJ
Queda da venda de imóveis impacta bancos em dois anos
Nos primeiros sete meses de 2011, a venda de imóveis residenciais na cidade de São Paulo teve queda de 28,6% ante a de igual período de 2010, para 14.402 unidades, indica o Secovi-SP. Para as instituições financeiras, o recuo das vendas ainda não impacta o crédito. A Caixa Econômica Federal projeta expansão de 17% neste ano, para R$ 90 bilhões em volume de negócios. Já a Brazilian Mortgages, da BM Sua Casa, prevê ultrapassar R$ 700 milhões, mais do que o dobro da soma de 2010, de R$ 320 milhões.
Especialistas, porém, revelam que há uma defasagem de dois anos, já que os bancos financiam somente imóveis finalizados, e a redução atual do crescimento atinge as construtoras, que comercializam unidades na planta.
O professor do curso de administração da ESPM, André Accorsi, explica que regiões do Brasil já demonstram queda na demanda por imóveis por conta dos altos valores. "Nos últimos anos, os bancos facilitaram a concessão de crédito, o que aumentou a procura e gerou elevação dos preços. Agora ainda tem a facilidade, mas há a dificuldade em pagar as parcelas e, com isso, o consumidor pensa duas vezes. Além disso, vale lembrar que o crescimento do país não está no mesmo ritmo do ano passado."
Accorsi lembra que o Município de São Paulo apresenta a maior diminuição das vendas, principalmente no alto padrão. Segundo Secovi-SP, de 14,3% em julho ante 2010. "São Paulo foi onde houve o maior aumento por metro quadrado e a renda não acompanhou a valorização."
No que se refere ao impacto no mercado de financiamentos, o professor ressalta que a ponta principal está na construção. "Quando o imóvel está pronto, que entram os bancos. Então, quem sente agora são as construtoras. Para o banco demora ainda dois anos."
Com cerca de 80% de participação no crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal projeta expansão de 17% da carteira ao final de 2011, para a faixa entre R$ 85 bilhões e R$ 90 bilhões. Segundo o diretor de habitação da instituição, Teotônio Costa Rezende, o impacto da queda das vendas ainda não atingiu os negócios da Caixa. "Em termos de mercado, houve uma desaceleração, mas não sentimos impacto nos financiamentos da Caixa." O diretor destaca que, por dia, são finalizados entre 4,6 mil e 4,7 mil contratos, com o total de R$ 350 milhões.
No acumulado do ano, até o final da primeira quinzena de setembro, o banco negociou 747 mil novos contratos e acumula R$ 53,5 bilhões, acréscimo de 8% ao mesmo período de 2010, quando somou R$ 49,4 bilhões. Rezende detalha que o crescimento não ocorreu de forma tão intensiva devido à primeira fase do programa "Minha Casa, Minha Vida". "Até julho, o 'Minha Casa, Minha Vida' não estava contratando revisar as normas. Em 2010, o programa funcionava intensamente."
Com início no final de agosto, a primeira fase do programa de casas populares do Governo Federal, direcionado às famílias com renda de até três salários mínimo, já disponibilizou 9 mil unidades neste ano, parte das 46 mil unidades que finalizaram 2010 em análise. "Priorizamos o atendimento e a busca dos contratos que já estavam em tramitação. O objetivo para este ano é perseguir 100 mil imóveis."
Até o momento presente, a diminuição do crescimento do mercado imobiliário também não atinge a Brazilian Mortgages, companhia hipotecária que possui a BM Sua Casa para pessoas físicas, produtos para pequenas e médias incorporadoras e fundos imobiliários. Para o diretor da empresa, Vitor Bidetti, o movimento é natural. "Há uma acomodação natural do ritmo de crescimento que vinha muito forte para um sustentável. No crédito continua forte e a companhia continua a crescer ano a ano."
O segmento voltado para o consumo, a BM Sua Casa, constitui no investimento atual dos negócios da empresa, com elevação de 19 para 85 no número de pontos de atendimento no Brasil. Bidetti revela que em 2010 o volume gerado com o segmento chegou a R$ 320 milhões e, para 2011, a expectativa é de atingir R$ 700 milhões. "Em setembro, já está próximo dos R$ 500 milhões."
Da carteira, o carro-chefe é o refinanciamento do imóvel quitado, com 60% da originação de receitas. O diretor explica que o diferencial está na facilidade em obter 50% do valor do imóvel em forma de crédito de uso livre, com prazo de 30 anos e taxa de juros de 1,09% ao mês.
No segmento de pessoas jurídicas, o foco da Brazilian Mortgages está na concessão de financiamentos para pequenas e médias incorporadoras e construtoras. "É uma linha desenvolvida há 12 anos e que deve chegar a R$ 1 bilhão em 2011."
Outra instituição financeira a atingir significantes números no crédito imobiliário em setembro é o Banco do Brasil, com a marca de R$ 6 bilhões em volume de negócios, alta de 75,5%. Para o final do ano, a previsão do banco é de atingir R$ 7,5 bilhões, mais do que o dobro de 2010.
Fonte:
DCI