De volta à realidade
As vendas de apartamentos caem 12% na capital e corretoras começam a diminuir seus preços
Foto: Roberto Castro
Noroeste: a queda na oferta de lançamentos foi de 43% em 2013
Se você está pensando em comprar um imóvel em Brasília, o momento é propício. Com dinheiro no bolso para pagar à vista, suas chances de fazer uma grande aquisição aumentam ainda mais. A atual temporada de pechincha está relacionada diretamente à crise no mercado imobiliário, que assola todas as capitais e chegou forte ao Distrito Federal. Em um cenário com centenas de unidades encalhadas, o poder de barganha está nas mãos dos compradores. Segundo dados da Secretaria de Fazenda local, entre 2013 e 2014 a queda na venda de apartamentos novos e usados na capital foi de 12%. Entre os recém-construídos, o número de lançamentos sinaliza um enfraquecimento desde 2013, quando foram comercializadas 3 002 propriedades. No ano anterior, a oferta foi de 8 823 apartamentos desse mesmo grupo.
Símbolo do mais recente boom no setor, o bairro do Noroeste sentiu o maior reflexo da crise. De acordo com o Anuário do Mercado Imobiliário Brasileiro, num comparativo entre os anos de 2012 e 2013, a quantidade de lançamentos imobiliários por lá despencou 43%. Hoje, empreendimentos de luxo da região têm quase a metade das unidades encalhada. Nesse contexto, seus proprietários estão concedendo descontos de até 15%. Uma das unidades do edifício Île de la Cité, por exemplo, com 156 metros quadrados e três suítes, figurava no site WImoveis por 1,5 milhão de reais há dois meses. Na semana passada, o corretor havia baixado o preço para 1,3 milhão e garantiu que, se o pagamento fosse à vista, o dono faria um abatimento extra de 10%.
Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-DF), Hermes Alcântara, o mercado imobiliário de Brasília sempre operou fora da realidade. “Com a crise econômica, os proprietários começaram a praticar valores mais em conta”, afirma. Já o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi), Paulo Muniz, diz que as dificuldades no setor são momentâneas. “Imóvel foi, é e sempre será o melhor investimento do brasiliense.” Ele é proprietário da Construtora Conbral S/A, cujo último lançamento ocorreu em 2011, na cidade de Águas Claras. Das 108 unidades de dois quartos que compõem o prédio, dezoito estão encalhadas. “Pelo preço de tabela, cada apartamento custa 380 000 reais, mas dou desconto de 5% para pagamento à vista”, avisa Muniz.
Foto: Roberto Castro
Edifício em Águas Claras: inaugurado em 2011, tem dezoito unidades encalhadas
Corretora de imóveis experiente, Magda Alves da Mata conta que a situação está bem adversa. Segundo ela, alguns colegas do ramo chegam a ficar sete meses sem vender nada. Não é o seu caso. “Consigo negociar até duas unidades a cada trinta dias”, afirma. Na época de vacas gordas, no entanto, Magda entregava cinco chaves de apartamentos novos por mês. Segundo ela, o quadro econômico recessivo ditou novas regras. “Hoje, os interessados olham, olham e não compram. Quando fazem ofertas, pedem 20% de desconto. Nosso maior trabalho é convencer os proprietários de que os tempos são outros”, observa a corretora. Atualmente, ela tenta vender uma cobertura de 377 metros quadrados por 5,4 milhões de reais na Asa Sul. Pelo menos quarenta pessoas já visitaram o imóvel, ficaram encantadas com o luxo, mas não passou disso.
Para as construtoras, a recessão não é a única culpada pela escassez de oferta de unidades novas no DF. De acordo com Paulo Muniz, da Ademi, o governo anterior representou um atraso para o setor, já que a burocracia emperrou a aprovação de projetos imobiliários. “O mercado estaria até melhor, não fossem as dificuldades que as empresas têm enfrentado com a morosidade na obtenção do alvará de construção, algo que impede o lançamento de empreendimentos”, explica Ludmila Fernandes, diretora da Construtora Villela e Carvalho.
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