Filmes de ficção científica antecipam tecnologias que se confirmam na vida real
Estudos mostra que tecnologias de O Homem de Ferro 3 podem se tornar realidade
Numa das cenas mais eletrizantes do filme Homem de Ferro 3, uma aeronave é sabotada pelo vilão, e seus ocupantes são lançados a milhares de pés de altura. Calculando trajetórias e manobrando a toda velocidade em plena queda, o herói metalizado consegue salvar todos eles, mas acaba atingido por um caminhão, que o despedaça.
O público quase perde a respiração, mas, em seguida, descobre que Tony Stark está a salvo dentro do avião, controlando sua armadura com um dispositivo que “ lê” seus pensamentos. O recurso pode parecer fantasioso, mas está mais próximo da realidade do que parece – e reforça a vocação do cinema de antecipar, mesmo que de maneira exagerada em alguns casos, as tecnologias que veremos no cotidiano.
Star Trek, uma das franquias de ficção científica mais famosas da história, adiantou uma série de gadgets modernos, como computadores portáteis e celulares. Agora, Capitão Kirk e Sr. Spock voltam às telas do cinema com Além da Escuridão – Star Trek, apresentando uma nova leva de engenhocas que podem – ou não – virar realidade.
Avatar, um dos grandes blockbusters da década passada, mostrava uma tecnologia que permitia aos humanos “ encarnar” em clones de alienígenas e controlá- los com a força do pensamento – incluindo um fuzileiro naval paraplégico. Essa mesma ideia está em desenvolvimento desde 2008 pelo projeto Walk Again, coordenado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que pesquisa maneiras de fazer portadores de paralisia andarem novamente.
Em 2011, Nicolelis apresentou avanços dignos de cinema em seu projeto: um primata, colocado para caminhar sobre uma esteira na Universidade Duke, nos EUA, fez um robô, instalado no Japão, replicar os mesmos movimentos. Claro que daí para o combate ao crime em exoesqueletos atômicos é um caminho incerto, mas não totalmente impossível ou descartável.
– A ficção lida com o nosso imaginário para nos transportar para uma realidade ainda desconhecida, mas que, muitas vezes, faz sentido. Há alguns anos, ver James Bond localizar seu carro pelo telefone era algo que emprestava prestígio para o personagem. Hoje, isso começa a virar rotina – aponta Eduardo Pellanda, professor e pesquisador de Comunicação Digital da PUCRS.
Minority Report, adaptação da obra de Philip K. Dick levada às telas em 2002 por Steven Spielberg, é até hoje uma referência em previsões acertadas. As interfaces virtuais manejadas pelo personagem de Tom Cruise e a ideia de propaganda personalizada, por exemplo, correspondem hoje ao dispositivo Kinect, da Microsoft, que conta com sensor de movimentos, e ao Google Ads.
Para a professora Nísia Martins do Rosário, que conduz um trabalho sobre corpo e audiovisual na Faculdade de Comunicação da UFRGS, essa preocupação em apresentar uma ficção plausível é uma forma de aproximar o que está na tela do cotidiano do espectador, conectando os filmes a algo mais próximo de um futuro possível.
– A tecnologia transforma a vida das pessoas de diversos modos, mas é na materialização de imaginários que esse processo tem adquirido mais força. E essa materialização de imaginário se dá corriqueiramente no cinema e, posteriormente, poderá ocorrer a“ materialização” da ficção em produtos para o mercado consumidor – explica.
Exemplos de outras tecnologias que saíram das telas para o cotidiano não faltam, mas há aquelas que são experimentais demais. No próprio Homem de Ferro 3, há segmentos que ainda estão muito distantes da realidade, como o uso da holografia para recriar uma cena de crime ou a projeção do diagrama interativo de um cérebro funcionando em tempo real.
– A holografia trabalha com ilusão de ótica: quem vê pensa que a imagem está suspensa no ar, mas ela não está. No nosso caso, trabalhamos com um sistema de película quase transparente que retém a imagem, algo que o ar não pode fazer ainda – explica Leandro de Pinho Monteiro, diretor de tecnologia da Eyemotion, empresa de São Paulo que, desde 2008, trabalha com holografia.
– Manusear um holograma, então, é completamente impossível hoje.
STAR TREK: Na década de 1960, Star Trek já mostrava um futuro em que era possível viajar por dobras espaciais, se teletransportar de um ponto a outro da galáxia e travar batalhas com alienígenas. Foi também uma das séries de ficção que melhor tratou a ciência, tendo como cenário São Francisco – o Vale do Silício, um centro industrial tecnológico, fica ao sul da cidade americana. Entre as tecnologias apresentadas por Star Trek e que hoje são realidade, estão comunicadores portáteis, teleconferência, computadores de mão, tradutores de linguagem universal e armas de atordoamento. Dessas invenções, uma se tornou popular, mas três décadas depois: o telefone celular.
VANILLA SKY: No filme Vanilla Sky ( 2001), um holográfico John Coltrane dá o ar da graça para animar uma festa. Em 2012, o rapper Snoop Dogg se apresentou no festival Coachella acompanhado do ex- parceiro Tupac Shakur ( 1971– 1996, à direita) usando expediente semelhante – ao invés de uma base que projetava a imagem do músico morto no ar, uma película transparente servia para projetar sua imagem.
MINORITY REPORT: Considerada uma das produções com maior apuro científico da história do cinema, Minority Report ( 2002) apresentou algumas criações que já fazem parte do cotidiano ou estão próximas de se tornarem realidade. A cena em que o personagem de Tom Cruise mexe em documentos virtuais numa tela usando apenas as mãos virou realidade em 2010, quando a Microsoft colocou no mercado o sensor de movimentos Kinect para o videogame XBox 360. Veículos que se movimentam sozinhos também estão próximos de se tornarem corriqueiros – em janeiro deste ano, a Toyota apresentou um modelo finalizado do seu carro inteligente.
HOMEM DE FERRO: Tony Stark pode se considerar um simples mecânico, mas as traquitanas que o herói opera em Homem de Ferro 3 estão mais para mágica do que para tecnologia. Usar holografia para recriar uma cena de crime e manusear os elementos que estão nela como se fossem reais, por enquanto, é coisa de cinema e nada mais. Por outro lado, a armadura controlada remotamente por um sistema que liga o cérebro de Stark ao computador do exoesqueleto não é algo tão distante da realidade, como mostram estudos na área de neurociência.
STAR WARS: Star Wars pode ser um universo de fantasia, mas o primeiro filme, de 1977, adiantou a ideia de comunicação através de hologramas.
No longa, a Princesa Leia envia uma mensagem de socorro via holografia. Nas eleições norte- americanas de 2008, a CNN colocou seus âncoras para conversar com hologramas de repórteres – cada um em um estúdio diferente da emissora.
Ainda é ficção:
AGENTE 007 – JAMES BOND: O agente James Bond é o rei dos gadgets no cinema, mas poucos deles vingaram na vida real. Um deles é o jetpack utilizado no longa 007 Contra a Chantagem Atômica ( 1965), com Sean Connery no papel principal. Até hoje a ideia povoa a mente de engenheiros e físicos, mas o máximo que se conseguiu foram protótipos que apresentam custo/ benefício muito além do esperado.
A MÁQUINA DO TEMPO: A ideia de viajar no tempo é anterior ao cinema, mas ganhou força com a materialização de um dispositivo no longa A Máquina do Tempo ( 1960), baseado na obra homônima de H. G. Wells. Por razões que a física explica, essa é uma tecnologia que dificilmente sairá das telas.
DE VOLTA PARA O FUTURO: Veículos que flutuam utilizando magnetismo não são novidade (vide os trens- balas que circulam na Europa e no Japão), mas seu funcionamento é muito mais complexo ( e caro) do que o mostrado no skate voador que Marty McFly usa no filme De Volta Para o Futuro 2 ( 1989). Por enquanto, o brinquedo seguirá somente na imaginação dos amantes de cultura pop.
Fonte:
http://diariocatarinense.clicrbs.com...l-4150372.html