Agência internacional aponta Brasília entre as cidades com maior crescimento demográfico no mundo nos próximos dez anos
Especialistas projetam piora nos serviços públicos e qualidade de vida no DF e Entorno
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
Engarrafamentos nas principais vias de Brasília devem se tornar mais frequentes daqui a dez anos
Lúcio Costa se surpreenderia ao ver o quanto Brasília cresceu muito além das previsões dele. Projetou que a nova capital teria cerca de 500 mil habitantes e não passaria disso. Nos dias de hoje, só o número de pessoas que chegam para trabalhar todos os dias na capital já supera os 700 mil. Num futuro próximo, o aumento de população e consequentemente da densidade demográfica (população/área) no Distrito Federal pode estar entre os maiores do planeta, segundo a agência Bloomberg.
No estudo, a Bloomberg pesquisou as 40 cidades ‘mais lotadas’ do mundo, com Brasília na 7ª colocação na proporção da população por milha quadrada, atrás de capitais brasileiras como Salvador e São Paulo, mas a frente do Rio de Janeiro. Ao considerar o crescimento da população de 1995 até 2025, o aumento chega a 118,6%, menor apenas que o de duas cidades na Arábia Saudita: Riad e Jidá. De acordo com as previsões da agência, em dez anos a população de Brasília estará perto dos 5 milhões (4.933.285 habitantes) e a densidade demográfica será de 852 habitantes por quilômetro quadrado.
A Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal) tem uma projeção mais otimista que a da Bloomberg, baseada por dados do IBGE. Na comparação do mesmo período (1995-2025), o crescimento populacional de acordo com a companhia será de 90,9% ainda muito alto, numa proporção de 607 habitantes por quilômetro quadrado. Daqui a dez anos, a companhia prevê que o DF tenha 3.512.409 habitantes, quase 700 mil a mais do que a população estimada pelo IBGE de 2014: 2.852.372.
Segundo a Codeplan, cidades-satélites (regiões administrativas) como Samambaia, Riacho Fundo, São Sebastião, Ceilândia e Planaltina estão entre as que mais receberão novos moradores, por conta de programas habitacionais do governo e novos empreendimentos imobiliários. Além disso, atualmente, 32% das pessoas que migram para o estado de Goiás buscam emprego no DF.
Com mais habitantes, a tendência é de sobrecarga na demanda por infraestrutura, recursos naturais, serviços públicos e qualidade de vida. Segundo estudiosos, os brasilienses sentirão os piores efeitos nas áreas de mobilidade urbana e saúde, pois já apresentam problemas com a população do jeito que está. O especialista em trânsito e professor da UnB Artur Moraes alerta para a morosidade dos projetos que deveriam melhorar o transporte urbano.
— A expansão do metrô, o corredor do Gama, que só foi liberado em parte, o Corredor Norte para Sobradinho. São todos projetos do século passado, e até hoje não conseguiram fazer. Projetos que precisam ser desenvolvidos e executados a tempo. O corredor da EPTG de ônibus, construído há cinco anos e que ainda não funciona. Tudo muito lento.
Outra consequência esperada num cenário de cidades mais inchadas é o aumento da frota de carros. Segundo o Detran, hoje o DF registra 1.588.077 veículos, num aumento de 4,5% em comparação a 2014, mas quase o dobro na comparação com os dados em 2005. A proporção é de mais de 1 carro para cada 2 habitantes. Moraes lembra ainda que o número piora ao considerar a região do Entorno.
— Brasil hoje tem mercado para expansão da frota para quase 50 milhões de carros. Hoje já estamos com 4 milhões de pessoas somando o Entorno, vamos chegar a mais de 5 milhões em 2025, Estamos falando em mais 500, 600 mil veículos. Não temos nem estacionamento para a frota hoje.
O secretário de Mobilidade do DF, Carlos Tomé, afirma que o governo vai revisar o Plano de Desenvolvimento do Transporte Urbano, já que foi elaborado em 2009. O documento projetou a situação do trânsito até 2020, para quando espera que as principais vias do DF fiquem totalmente saturadas de carros. Segundo ele, o GDF retomará os projetos antigos.
— O que temos hoje são corredores que já foram pensados lá atrás, projetados e licitados: Corredor Norte (Planaltina e Sobradinho ao Plano Piloto), Corredor Oeste (da avenida Hélio Prates até a Rodoviária do Plano), Corredor Sul, que já teve parte lançada em 2014 (da Epia até o fim da Asa Norte). Vamos focar no transporte coletivo e não-motorizado, para que fiquem mais atrativos.
Tomé afirmou ainda que a expansão do metrô para duas novas estações em Ceilândia, três em Samambaia e uma na Asa Norte (em frente ao Hospital Regional), será licitada ainda neste ano.
Saúde
Com relação aos problemas na rede pública de Saúde, o secretário da pasta no DF, João Batista de Sousa, reconheceu o déficit no serviço. Em audiência pública na Câmara Legislativa, ele avaliou que faltam 12 mil servidores, 290 vagas em UTIs e 3.167 leitos, considerando os parâmetros máximos.
Para atender à demanda, seria necessário ainda a construção de 138 novas unidades básicas. Um plano de revitalização dos hospitais existentes já foi elaborado pelo órgão, mas a implementação esbarra na falta de recursos, de acordo com o secretário.
— Os problemas são muito mais graves do que se pensa. Os desafios são enormes e o orçamento é insuficiente. Em pouco tempo vamos precisar dobrar os recursos.
Desenvolvimento econômico é a saída
Urbanistas, especialistas em transporte, economia e a própria Codeplan convergem ao apontar a melhor solução para adaptar a cidade ao crescimento populacional: é preciso investir no desenvolvimento econômico das regiões administrativas do DF. Isso diminuiria o trânsito de pessoas que se deslocam para trabalhar, além de aumentar a arrecadação do Estado para aumentar os recursos aplicados na melhoria dos serviços.
A urbanista Laila Mackenze fez uma pesquisa sobre a expansão irregular de Brasília, e alerta para a falta de políticas públicas para estas cidades.
— Os governos passados não planejaram justamente como preparar o entorno e o próprio DF para absorver, do ponto de vista econômico, de atividades econômicas, essa população crescente. Se a população não tiver preparo e não tiver atividades, emprego, não tem como o governo prover serviços de qualidade, pois hoje já mostra dificuldades de arrecadação de impostos.
Na atual conjuntura, o desenvolvimento do DF anda para trás. 165 mil pessoas estavam desempregadas no fim do 1º trimestre de 2015, com a 4ª maior taxa (10,8%) entre as regiões medidas pelo IBGE. A atividade econômica caiu 1,7% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2014, influenciada pela baixa na administração pública, no comércio e na construção civil, segundo a Codeplan.
No início do mandato do governador Rodrigo Rollemberg, a Fecomércio-DF apontou prioridades que o GDF precisa reconhecer no setor, tais como descentralizar a economia brasiliense, diversificar a estrutura econômica e criar um plano de desenvolvimento regional. Hoje, 92% dos produtos consumidos vem de fora do Distrito Federal, e a indústria contribui com apenas 6% do PIB local (Produto Interno Bruto).
O secretário de Economia e Desenvolvimento Sustentável do DF, Arthur Bernardes, reconhece a necessidade de elaborar um plano e de atrair a iniciativa privada. A estratégia do governo é simplificar a legislação para o funcionamento de micro e pequenas empresas, além de investir na infraestrutura de modo que os empresários da indústria tenham confiança para se estabelecer nas regiões administrativas e no Entorno.
— Temos conversado com o setor produtivo para lançar a Política de Desenvolvimento do DF. Cabe ao governo articular e oferecer aos investidores um cenário favorável. Em muitas áreas do Entorno podemos criar distritos industriais, e o investimento lá retorna para Brasília. Cada emprego que gera lá gera um em Brasília, pois o trabalhador da região fica perto de casa e abre uma vaga no centro.
http://noticias.r7.com/distrito-fede...-anos-20062015