DF tem cerca de 20 mil poços artesianos ilegais, que podem acabar com a água subterrânea da capital em 15 anos
Multas para quem for flagrado com recursos hídricos irregulares chega aos R$ 30 mil
A perfuração desordenada e clandestina de poços artesianos e cisternas pelos condomínios irregulares e invasões da capital federal ameaça o abastecimento de água dos brasilienses em um futuro não muito distante. Atualmente, existem pelo menos 20 mil captações de recursos hídricos ilegais em todo o DF. O professor de geologia, especialista em hidrogeologia e doutor em poços artesianos pela UnB (Universidade de Brasília), Fernando Straus, explicou que se a situação não for controlada, em 15 anos a água subterrânea do Distrito Federal pode acabar.
Foto: Agência Brasil
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Construção de poços artesianos e cisternas ilegais colocam em risco a água subterrânea do Distrito Federal
Para ele, essa "grande exploração" do lençol freático coloca em risco todos os recursos hídricos atualmente existentes no cerrado, o que pode provocar danos "irreversíveis" ao meio ambiente e à população a curto e médio prazos.
— Além de acabar com toda a água subterrânea, ainda deteriora-se rapidamente a qualidade da [água] que é boa para consumo humano.
Straus explicou que participou de um estudo recente pela universidade e ficou comprovado que alguns moradores de Brasília consomem água de forma indiscriminada e bem acima da capacidade de reposição natural das fontes de captação.
Ele faz um alerta e pede para que a população se conscientize enquanto é tempo.
— Moradores do Jardim Botânico, Península Norte, Lago Sul, Park Way, Gama, Grande Colorado, Vicente Pires e Sobradinho precisam ter consciência do que estão fazendo com o meio ambiente. Não somente eles, mas todos os moradores do Distrito Federal devem abrir os olhos. A água ainda é um recurso gratuito, mas se as coisas continuarem como estão em breve teremos que pagar caro por ela.
O Superintendente de Recursos Hídricos da Adasa (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal), Diógenes Mortari, disse que atualmente estima-se que existam pelo menos 20 mil captações de água, entre poços artesianos e cisternas, que ainda não foram regularizados em toda a capital federal.
Os poços artesianos são mais fundos e podem chegar a 300 metros. Geralmente, esses recursos hídricos são usados para molhar jardins e plantas de grandes propriedades, além de serem usados para lavar carros.
As cisternas são menos profundas, chegam a 20 ou 30 metros no máximo. Nestes casos, a água coletada é própria para consumo humano e também pode ser usada para higiene pessoal.
Nos últimos anos, a agência conseguiu regularizar a situação de pelo menos 11.200 poços e cisternas que estavam nos setores habitacionais mais críticos, mas três mil deles foram lacrados em Vicente Pires, região administrativa do DF, por recomendação do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado entre o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Ministério Público e GDF (Governo do Distrito Federal) ano passado.
Mortari também disse que apesar de não ser considerado crime ambiental, a regularização das captações de água é fundamental para o licenciamento dos setores habitacionais, uma vez que é pré-requisito para concessão da futura escritura dos terrenos e fornecimento de saneamento básico pela Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal).
Palestras e campanhas educativas com a sociedade
Para controlar e tentar reverter a situação, a Adasa começou a promover campanhas informativas e educativas, além de seminários e encontros com os usuários de poços artesianos e cisternas de todas as regiões administrativas do DF que estão em situação ilegal para a devida regularização.
Neste primeiro momento, os usuários são notificados e recebem um tempo para sanar as pendências. Se os problemas persisitirem, correm o risco de ter os poços lacrados ou até mesmo de receber uma multa que pode chegar aos R$ 30 mil, dependendo do caso.
Os credenciamentos são gratuitos e podem ser feitos via internet, por meio do portal
www.adasa.df.gov.br. Após o preenchimento do formulário de cadastro, servidores da Adasa vão ao local para estudar a viabilidade e a melhor forma de regularizar a situação do poço ou cisterna.
A Adasa também explicou que a intenção não é deixar as pessoas sem água nem burocratizar a situação, mas proteger o meio ambiente e preservar o lençol freático e ter noção de onde e o quanto de água está sendo retirada do subsolo.
As informações solicitadas para o recebimento do documento de outorga/registro, que regulariza a situação, são CPF/CNPJ, telefone, endereço de captação, finalidades e a quantidade estimada da água que será usada por mês.
Os moradores que ainda não recebem água da Caesb e não têm os lotes construídos em áreas de preservação ambiental, também precisam procurar a agência, que pedirá a ligação do serviço.
http://noticias.r7.com/distrito-fede...-anos-06072013